Fertilidade: Por que a atividade física adequada é fundamental?

 

A fertilidade está diretamente relacionada com o percentual de gordura corporal das mulheres. De acordo com a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, 6% das mulheres inférteis estão nesta situação por estarem obesas, e outras 6% estão inférteis devido a estarem magras demais. Mais de 70% das mulheres inférteis por estar muito acima ou abaixo do peso ideal podem voltar a ter fertilidade com dietas para aumento/diminuição de peso e exercícios físicos regulares (em intensidade moderada)

A relação entre o peso corporal e a infertilidade está nos hormônios sexuais: a testosterona (principal hormônio masculino) e o estradiol (principal hormônio feminino) são dissolvidos na gordura, e não na água. Estes hormônios se acumulam na gordura corporal. As reservas de gordura corporal são saturadas com os hormônios sexuais e promovem um equilíbrio com o sangue. Em adição a quantidade de hormônios sexuais estocados na gordura corporal, as gônadas secretam testosterona e estradiol para manter os níveis necessários para manter a função reprodutiva. As células adiposas convertem um hormônio masculino chamado androstenediona em um hormônio feminino chamado estrona. A estrona não é um hormônio tão potente quanto o estradiol e tem efeitos metabólicos no eixo hipotálamo-hipofisário do cérebro (área do cérebro que regula as funções dos testículos e ovários) para alterar a função reprodutiva. Estas interações complexas tem um efeito prejudicial na função reprodutiva.

Os efeitos do peso corporal na função reprodutiva feminina estão bem esclarecidos na literatura. Existem diferentes vias metabólicas para o metabolismo do estradiol de acordo com o peso corporal das mulheres. Mulheres magras metabolizam o estradiol em 2-hidroxiestrona (2-OHE1), um antiestrogênico. Estas mulheres “desligam” progressivamente o ciclo reprodutivo até ficar completamente inativo quando é atingido um estágio de anorexia nervosa (definida como menos de 85% do peso corporal ideal para sua altura). Já as mulheres obesas metabolizam o estradiol em estriol, um estrogênio fraco. Este aumento progressivo nos níveis de estriol e estrona faz com que a ovulação diminua até cessar completamente, tornando a mulher infértil. Assim sendo, ambos os extremos de peso femininos desenvolvem um ciclo reprodutivo irregular, por mecanismos distintos. As mulheres muito magras tem deficiência no estrogênio enquanto as obesas tem um excesso de estrogênio e ambas não desenvolvem um ciclo regular.

O percentual de gordura tem importância fundamental na reprodução humana. Tanto o excesso quanto a deficiência de gordura corporal levam a alterações que causam infertilidade. Se o peso corporal da mulher está menor que 95% do previsto como ideal ou acima de 120% disto, então se faz necessário um acompanhamento para retornar aos níveis ideais visando a melhoria na função reprodutiva.

Para quem está tendo problemas de fertilidade, alguns médicos podem sugerir a interrupção de exercícios, o que funciona na prática apenas para aqueles que estão em um estágio de overtraining ou treinamento visando o alto rendimento, como corridas de longa duração (maratonas). Uma dose saudável de atividade física só promoverá benefícios para a fertilidade.

Os exercícios já promovem diversos benefícios para uma pessoa normal, mas para as mulheres que estão tentando engravidar, os exercícios podem ajudar a eliminar ou ao menos controlar algumas causas da infertilidade, tais como:

- Redução no estresse: O estresse afeta a fertilidade, mesmo que não diretamente. Ele pode nos ocasionar comportamentos pouco saudáveis que contribuem para infertilidade, como a alimentação inadequada, tabagismo e o consumo excessivo de álcool.

- Perda de peso: a obesidade está diretamente ligada a infertilidade, como exposto previamente. Um treinamento aeróbio visando a melhoria cardiovascular e o treinamento de força, se feitos de maneira adequada e moderadamente, são componentes fundamentais para a perda de peso juntamente com uma alimentação adequada.

- Melhora na qualidade do sono: A falta de sono está diretamente ligada a obesidade, o que pode afetar a fertilidade. O exercício físico pode ajudar na qualidade do sono, especialmente se feito no período da manhã. Pesquisadores acreditam que o exercício matinal pode melhorar o ritmo circadiano e nos deixar mais acordado durante o dia e permitir um sono mais profundo à noite.

É sabido que mulheres adolescentes que participam de treinamento físico vigoroso como as ginastas e as bailarinas têm um atraso no desenvolvimento sexual (mamas, pelos pubianos, menstruação e ovulação), e este desenvolvimento só volta ao normal se a carga de treinamento é reduzida e o peso corporal volta ao padrão “normal”. Na contramão, adolescentes obesas têm um desenvolvimento sexual mais cedo devido ao acúmulo de gordura.

Os exercícios são fundamentais para quem está querendo engravidar. Eles ajudam o sangue a fluir para o útero e os ovários, além de promover uma sensação de bem-estar e reduzir o estresse. Estudos relatam aumento na ovulação, redução na resistência a insulina e perda de peso em mulheres com síndrome do ovário policístico que participaram de um programa de atividades físicas moderadas. Porém, mulheres que realizam exercícios vigorosos (exaustivos) têm duas vezes mais chances de terem problemas de fertilidade que mulheres que realizam exercícios moderados.

Para uma mulher que se exercita e está tendo problemas de fertilidade, a atenção deve estar nos seguintes pontos: ausência de menstruação por tempo prolongado,  sinais de overtraining (fadiga, insônia, baixa performance e dores contínuas) e carga semanal de treinamento (que não deve ser superior a sete horas semanais)

Para os homens, o overtraining também é prejudicial. O excesso de exercícios pode diminuir a produção de espermatozóides. Em estudo de Roberts, AC et.al. (1993), a contagem de espermatozóides caiu para 43% do normal em indivíduos avaliados imediatamente após um estágio de overtraining, e mesmo após 3 meses o nível de espermatozóides ainda era baixo (52%). O treinamento intenso sem o descanso adequado reduz a produção de testosterona e aumenta o nível de hormônios catabólicos como o cortisol, além de interferir no sistema imunológico.

Para promover benefícios para a saúde de uma maneira global e manter um peso normal que promoverá melhoria na fertilidade, o American College of Sports Medicine recomenda realizar ao menos 150 minutos de exercícios aeróbios moderados por semana (30 minutos por dia) e ao menos duas sessões de treinamento de força (musculação) em intensidade moderada por semana. O acompanhamento de um profissional de educação física é fundamental para evitar o overtraining e reduzir o risco de lesões decorrentes da má postura ou sobrecarga durante os exercícios.